Para quem possui alguma cultura religiosa, a palavra “Cenáculo” (do latim cenaculum, sala de jantar) evoca necessariamente o lugar onde Jesus, na véspera da sua Paixão, celebrou a Última Ceia com os discípulos (Mc 14, 15; Lc 22, 12).
A mesma palavra designa também uma ferramenta educativa do Corpo Nacional de Escutas (CNE): um fórum de Caminheiros e Companheiros, com função consultiva, onde se pretende criar um espaço de debate sobre temas de interesse para os jovens escuteiros da IV secção, os Caminheiros.
Para quem, entre nós e um pouco por todo o país, se interessa pela Teologia, a palavra tem um sentido ainda mais amplo e, por paradoxal que pareça, bem mais específico: Cenáculo é o nome da Revista dos Alunos da Faculdade de Teologia, em Braga, que ontem, 7 de março (dia da morte de S. Tomás de Aquino), completou 75 anos de existência. Nascida em 1946, a revista é uma veneranda senhora, de respeitosa idade e de créditos consolidados.
O seu aniversário é oportunidade para recordar o acontecimento das origens e 75 anos de acontecimentos; para agradecer tanta produção literária e teológica (conheceu apenas um interregno de publicação, entre 1954 e 1961); para perspetivar um futuro que se pretende que seja, no mínimo, tão ou mais risonho quanto o passado, até porque o seu lema é Plus Ultra (“Mais além”/“Sempre mais e melhor”).
A revista foi fundada por um grupo de alunos do Seminário Conciliar de Braga, no seio da Associação dos Amigos da Boa Imprensa e sucedeu ao jornal Nos quoque (“Nós também”). O seu conteúdo começou por se situar em quatro áreas fundamentais: literatura, teologia, humanismo e arte religiosa. Contudo, com o passar dos anos, focou-se essencialmente nas vertentes literária e teológica.
Além disso, tem organizado inúmeras atividades culturais (conferências, colóquios e jornadas) que já trouxeram a Braga grandes nomes da cultura e da reflexão eclesial, do país e do estrangeiro. O destaque vai necessariamente para as Jornadas Teológicas, iniciadas há mais de trinta anos, que organiza anualmente em parceria com a Associação de Estudantes da Faculdade de Teologia. Afirmam-se como “um espaço de debate aberto à sociedade bracarense” (www.revistacenaculo.pt) e um momento de reflexão eclesial cujas conclusões se estendem muito para além de Braga, já que os textos das conferências são publicados num dos números da revista.
Cenáculo é “um projeto de serviço teológico, eclesial e cultural” (www.revistacenaculo.pt), num contexto onde as revistas do género escasseiam, sinal da pouca produção teológica e da ausência de recursos materiais que permitam publicar o pouco que se produz. Porque é uma feliz exceção, um oásis no deserto, não podemos deixar de a saudar e incentivar!
A estrutura que lhe dá corpo é uma escola onde se cultivam valores e virtudes: a responsabilidade, o trabalho em equipa, a ousadia de pensar e a necessidade de crivar sonhos e projetos. Proporciona ainda aos jovens que a integram momentos de convívio e oportunidades únicas de contacto com nomes sonantes do panorama cultural e teológico.
A publicação da revista funciona como um estímulo para que os alunos escrevam e se esmerem nos seus trabalhos académicos, sempre com a perspetiva no horizonte de que venham ser publicados. Sei, por experiência própria, quão importante é uma oportunidade assim para quem começa a dar passos no caminho do fazer teológico.
Cada um dos seus números é uma sala onde os leitores podem saciar-se com a abundância de iguarias que tornam lauto o banquete da sua leitura; um fórum ou espaço de debate de temas preferencialmente teológicos e de premente atualidade; uma plataforma onde se encontram aqueles que, em diferentes locais, se alimentam com os mesmos textos de reflexão teológica e de expressão literária, de pendor humanista e cristão.
Em data tão especial, resta-nos felicitar a Revista Cenáculo e quantos torna(ra)m possível este projeto, desejando que vá cada vez mais longe (Plus Ultra), a bem da Teologia e da Igreja, em Portugal.
Professor João Alberto, in Diário do Minho